O consultório está repleto de casos de ansiedade. Aliás, não é só lá. O mundo anda ansioso. Muitas pessoas que procuram atendimento psicoterapêutico têm dificuldade de aceitar que não há uma forma direta para eliminar as emoções que são consideradas “ruins” (BRANDÃO, 1999). Inclusive, muitos clientes me contam que esperam eliminar completamente a ansiedade da sua vida, contudo, não a consideram como uma emoção de todo ser humano e, portanto, impossível de ser retirada completamente de nossas vidas.
Talvez você esteja se questionando a necessidade de buscar apoio profissional, já que a ansiedade sempre fará parte da sua vida. Em primeiro lugar, nem toda ansiedade é patológica. Segundo Zamignani e Banaco (2005), para que seja considerada como um fenômeno clínico, é necessário levar em conta alguns aspectos, como: a) se há prejuízos ocupacionais, de modo que o andamento das atividades – sejam elas sociais, acadêmicas ou profissionais – estejam comprometidas; b) quando o sofrimento afeta o indivíduo de maneira significativa e; c) quando comportamentos com intuito de evitar ou fugir do estado ansioso passam a ocupar um tempo considerável no dia a dia.
O manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais, em sua quinta edição (DSM 5), define que os transtornos ansiosos estão relacionados ao comportamento de medo e de ansiedade. Por medo, refere-se a uma ameaça real ou percebida, enquanto a ansiedade se trata da antecipação de uma ameaça futura (APA, 2014).
Ao sentir ansiedade, é comum um padrão comportamental chamado de esquiva fóbica, isto é, na presença de um evento que ameace ou incomode, a pessoa faz algo (se comporta) para adiá-lo, retirá-lo ou amenizá-lo (Zamignani & Banaco, 2005). Muitas vezes, após realizar determinado comportamento, é comum que a pessoa se sinta aliviada por ter evitado, diminuído ou fugido da situação temida.
Outra característica bastante comum em pessoas ansiosas se trata da superestimação do que poderá ocorrer, caso ela não consiga impedir que aconteça o que está sendo temido. Por exemplo, vamos imaginar que alguém fez algo que te incomodou e você gostaria de dizer isso para a pessoa, porém você começa a imaginar que ela ficará magoada ou irritada contigo e, portanto, prefere não fazer nada ou fingir que não se importou, a fim de evitar uma briga ou discussão. Situações de avaliações (apresentação de trabalhos ou provas) também são propensas à despertar o nosso lado ansioso. Algumas pessoas ficam paralisadas, pois imaginam humilhações, reprovações e “catástrofes homéricas”, como resultado de suas ações.
As sensações fisiológicas comuns nos transtornos de ansiedade são: inquietação ou sensação de que os nervos estão à flor da pele, cansaço, dificuldade de concentração, irritabilidade, tensão muscular, perturbação do sono, taquicardia, falta de ar, tremores, calafrios, entre outros. Estes sintomas costumam ser acompanhados por preocupação, medo de perder o controle ou até mesmo de morrer.
No consultório, nós costumamos discutir um pouco a respeito das situações ansiógenas, a fim de conhecer os eventos que despertam estas emoções, com intuito de possibilitar a identificação daquilo que possa ser um “gatilho” e, também, para pensar em alternativas de reagir à ela, sem que estas sejam uma tentativa de se livrar do desconforto. A relação psicoterapêutica, de acordo com Brandão (1999), poderá encorajar o cliente à auto-observação, na redução do sentimento de culpa e na experimentação de respostas emocionais em sessão, junto com o psicoterapeuta.
Considerando que os desconfortos gerados pela ansiedade, além de físicos, também consiste na antecipação de uma situação futura, é difícil para as pessoas passarem por esse processo sem sofrimento. Nesse cenário, muitas vezes, o melhor que conseguimos e podemos fazer é evitar ou sair correndo daquilo que nos assusta. Repare que estamos falando de um sofrimento significativo, é difícil para quem o sente compreender suas emoções e lidar sozinho com todas as coisas que estão envolvidas à ela (não se sinta fraco por procurar um terapeuta, pode ser a melhor coisa que você poderá fazer por você, além de ser um puta ato de coragem).
Muitos dos meus clientes, após agirem como gostariam diante de um evento que costumavam fugir, relatam que imaginavam algo muito pior e se surpreendem por parecer mais simples do que esperavam. É claro que perceber isso não torna mais fácil passar por novas situações que geram ansiedade, contudo, reconhecer as habilidades para lidar com cada evento contribui no aprendizado de novas maneiras de lidar com a emoção.
Costumo dizer que a ansiedade é como se fosse um monstro que se alimenta do nosso medo. Quanto mais tememos e corremos dela, maior ela vai se tornando, podendo atingir proporções que nos ultrapassam, capaz de nos paralisar de um jeito assustador e, muitas vezes, inexplicável e indescritível.
O tratamento pode ser realizado com um psicólogo e/ou um psiquiatra, mas outros profissionais poderão ser incluídos, caso um dos profissionais envolvidos veja a necessidade. Em algumas situações, se faz necessária uma intervenção medicamentosa, de modo que a medicação auxilie no processo de mudança do comportamento do cliente, que estará sendo pensada e discutida em psicoterapia.
Enquanto psicólogo, considero essencial a participação de um psiquiatra nos casos em que a ansiedade gera prejuízos significativos no dia a dia do cliente, o que não significa que apenas a medicação será suficiente para resolução dos sintomas. Aliás, nós seres humanos somos uma “coisinha” complexa e que merece cuidado. Não tenha vergonha ou receio de reconhecer suas dificuldades, busque maneiras de viver uma vida mais saudável, pois certamente isso poderá lhe trazer mais realizações e felicidade.
Quer falar mais a respeito ou tirar dúvidas, fique a vontade para me escrever. Você também pode comentar falando o que achou do texto e, se quiser compartilhar como a ansiedade lhe atinge, fique a vontade para isso. Também estamos aceitando sugestões de temas para redação de outros textos sobre este ou algum outro assunto.
Referências:
American Psychiatric Association. (2014). DSM-5: Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais. Porto Alegre (RS): Artmed.
Brandão, M. Z. da S. (1999). Terapia comportamental e análise funcional da relação terapêutica: estratégias clínicas para lidar com comportamento de esquiva. Revista Brasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva, 1(2), 179-187.
Zamignani, D. R., & Banaco, R. A. (2005). Um panorama analítico-comportamental sobre os transtornos de ansiedade. Revista Brasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva, 7(1), 77-92.
Sobre o autor:
Alex Valério é psicólogo comportamental contextual (CRP 06/134435). Especialista em Terapia Comportamental pela Universidade de São Paulo (USP). Realiza atendimento clínico, nas modalidades presencial e online, para adolescentes e adultos. Está localizado no bairro da Bela Vista, em São Paulo, próximo ao Metrô Trianon Masp. Possui interesse em música brasileira, poesia, literatura, cinema e tecnologia. Contato: alex@minutoterapia.com
Gratidão por sua publicação. Este tema , certamente é um fenômeno que está muito presente na atual sociedade. Parabéns pelo seu trabalho. Gratidão!
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Oi, Eliana!
Agradeço demais pelo tempo despendido à leitura e, especialmente, por seu comentário e feedback. Fico realmente muito feliz com teu retorno.
Um abraço!
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Muito bom o texto Alex!! Falou comigo… A ansiedade é algo que temos que saber lidar. Não é fácil… É um exercício diário, como se fosse um trabalho de formiguinha, mas vale a pena. A partir do momento em que conseguimos conter o pânico ou medo gerado pela ansiedade, ganhamos em qualidade de vida. Mas temos que estar sempre alerta, pois uma vez contido não quer dizer que o sentimento não volte….
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É isso aí, Carlos! Gostei muito das suas observações (to bem orgulhoso, confesso!!) É mesmo uma construção, que não é rápida e que não vai desaparecer nunca. Nossa vivência e o autoconhecimento que vamos obtendo acerca de nós, são aspectos que nos ajudam a lidar e “falar” com a ansiedade de um jeito diferente, mas é uma emoção que sempre irá gerar “coisas”, o que muda é nossa maneira de reagir a ela.
Obrigado pelo comentário !!
Um abraço!
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